Mudei-me para a toca em um dia ensolarado. A claridade excessiva quase me cegou. Era encantadora e agoniante a forma como a umidade do meu corpo se misturava ao clima seco e árido daquela cidade. Um belo balé de gotas fumegantes, brilhando diante da falta de vento.
Eu tinha uma quantidade mínima de moveis, dentre eles uma prateleira cheia de livros. A expectativa pelos novos amigos era grande, a vontade de ler era pouca ou quase nenhuma. O vazio se fez tão presente, que eu me sentia navegar em um oceano cheio de monstros ao deitar na cama. Por vezes fui resgatada pela música, bendito aquele que inventou o telefone.
Os dias foram passando junto com o ano. Fiz amizades, meu cabelo cresceu, adquiri o habito nômade e vivo daqui pra lá. Agora a toca não é tão vazia, divido-a com minha bagunça ordenada, esta já é crônica. A solidão existe somente quando o tédio e a saudade falam mais alto. No mais, divirto-me terrivelmente com a garota do espelho. É só fechar a porta que ela aparece.