Já não
há o bater das pálpebras. Debaixo, debaixo d’água. Debaixo do sonho d’água. Fluidez,
imersão, colorido turvo. Molhado- imenso. Impulsiono as pernas enquanto os braços vão leves e abrem caminhos. Já não sinto o gosto salgado. Há
calmaria, texturas e diferenças. Sinto, vejo e exploro. Escuto o movimento em corrente,
a música aveludada e natural do meio, de mim. Nado como quem dança em um ritmo
solto e essencial. Liberdade sinestésica. Deparo-me com histórias esquecidas e
submersas, novas histórias. Estórias. Vejo-me ao longe, em superfície, de fora, analisável; contemplável.
Um corpo, uma rede, um fio conector. Um sonho. Um sonho verde-azulado. Um sonho
debaixo do sonho d’água. Um sonho sem vontade de voltar. Mas tinha que respirar
e voltar. Tinha que passar pelo sonho alheio e retornar ao meu próprio sonho, todo dia, todo dia, todo dia. "Debaixo d'água tudo era mais bonito, mais azul, mais colorido, só faltava respirar".