O sorriso murchou assim que Ângela alcançou a solidão da sala colorida e ainda iluminada pelo sol do fim de tarde. Do lado de fora da casa estavam todos aqueles que mais sufocavam do que compadeciam em ajuda. Sua falsa segurança marcava uma alegria tão insólita quanto as piadas daquele dia. Ela ainda tinha esperanças. Não gostava daquela sensação de eterna espera, mas como eram companheiros de trabalho, passou a manhã ao lado dele, aguardando um sinal de que estivesse arrependido. Seu maior desejo era o retorno do rechaço, ao menos é o que dizia para si com freqüência. O seu ego ocupava um alto grau diante daquela tórrida paixão. Podia se flagelar em um canto particular, mas em frente ao júri, a tristeza estava muito bem armodaçada.
Já no banho, passou alguns minutos sentada em baixo do chuveiro. Odiava aquela debilidade, mas as pernas já não sustentavam o peso das lágrimas acumuladas. Em seu desespero, Ângela conseguia definir as pequenas poças de sua tristeza, que não se misturavam com a água corrente despejada sobre sua cabeça. Por tanto tempo condensadas, as lágrimas haviam se tornado impermeáveis, destacando-se em meio ao outro líquido transparente.
Cansada de todo aquele drama apoteótico, levantou-se e se forçou a esquecer o seu maldito sentimentalismo. Ainda despida, olhou-se no espelho e sentiu desprezo pela imagem que ali se encontrava. Com uma tesoura afiada, recortou uma nova figura de si. Antes de se jogar na cama, arrancou o telefone da tomada e desligou o celular. Os olhos verdes, cercados por densas pestanas, agora refletiam toda a malícia que passou a cercar o ambiente. Estirada em seu refúgio, Ângela se sentia grande e apreciava o encontro que não precisava de hora marcada. Aquele era o reencontro consigo mesma, o tocar a si mesma, o preencher de si... Por fim, alcançou o paraíso em terra firme. Em meio a altas gargalhadas, a sobrevivente que ali se encontrava, sentiu como se emergisse após um grande tempo em baixo d’água. Com a sensação de resgate, Ângela voltou a abraçar o seu velho e seguro amor, aquele que jamais a abandonaria.
23 de abr. de 2010
Velho e seguro amor
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