Noite de festa na animada cidade de Juazeiro. As ruas, devidamente iluminadas e com enfeites carnavalescos, recebiam cada vez mais foliões vindos de diferentes partes do Brasil. Naquela sexta-feira, não havia pernambucano que reclamasse da “mania” de festa dos seus vizinhos de estado. As barquinhas que atravessavam o rio São Francisco, em direção à Bahia, evidenciavam um grande número de simpatizantes da diversão momesca. As margens de Juazeiro, ondas de gente desembocavam sobre o solo firme da cidade.
Sentados na beira do rio, um grupo de quatro garotos, com idades que deviam variar de oito a 17 anos, esperavam alguém que viria das barcas, pois impacientes olhavam e apontavam para o outro lado da ponte Presidente Dutra. O mais alto do grupo, um moreno, com uma camisa de propaganda política e os pés descalços, ria compulsivamente e debochava de um dos meninos. De longe, não era possível escutar o que tanto divertia o mais velho, pois o som do trio elétrico, que passava naquele instante, abafava qualquer tentativa de averiguação. Porém, um olhar atento notaria o rápido avançar do que ria, em direção ao menor do conjunto, que menos experiente não teve como evitar o pano com tóxico que lhe obstruiu as vias respiratórias.
Os outros dois do grupo se divertiam, enquanto alucinados, os envolvidos na luta se empurravam tentando demonstrar superioridade. O menor, por fim, foi solto. Meio tonto cambaleou e puxou o ar com mais força que o normal. As mãos na garganta denunciavam uma queimação por si desconhecida. Para demonstrar o quão normal era o efeito, todos os outros garotos experimentaram a droga. A sensação de irrealidade parecia os atrair como um alimento para a alma.
Como nos outros dias, os transeuntes que subiam a rampa da orla evitavam passar por perto dos garotos, que pela aparência de crianças de rua, espantavam os evidentemente neuróticos. Os foliões mais entusiasmados preferiam ignorar e passar direto, cantando as músicas de sucesso da banda que tocava naquele instante. O menor do grupo, ainda meio perdido, lavava o rosto na beira do rio. Os outros três dançavam e pulavam ao ritmo do carnaval.
Quando por fim uma das barcas atracou, três garotos maltrapilhos desceram correndo, emborcando na cabeça chapéus feitos de jornal. Um deles, com no máximo nove anos, apontou uma vareta para frente e gritou se sentindo o capitão de uma frota:
-Avante, homens!
Os outros dois nem ligaram para a ordem, mas seguiram na direção indicada, pois era onde estavam, dançando, aqueles que vieram encontrar. Com toques de mãos como cumprimento, os meninos vindos de Petrolina saudaram os companheiros da Bahia.
Para os mais afeiçoados a sair à noite pelas cidades vizinhas, as figuras no antigo cais de Juazeiro não lhe eram estranhas, apesar da distancia que cada um faz questão de manter. Espalhados pelas lanchonetes e bares, os garotos eram conhecidos por revezarem o pedido de alimento e dinheiro. Alguns mais ousados, não se contentavam com uma resposta negativa e passavam, o que parecia horas para os que escutam, poucos minutos rogando por uma moeda. As pessoas fazem cara feia, desistir da comida ou rápido tiram o dinheiro do bolso para se livrar dos meninos. Em algumas mesas, cidadãos mais angustiados jogam a culpa no governo; esse é o remédio para as consciências que se recusam avaliar o problema mais a fundo. Habituados a todo o tipo de reação da comunidade sertaneja, os meninos aprenderam a conviver com a pior de todas elas: serem ignorados.
Após os cumprimentos, os sete dividiram entre si alguns papeis com impressões grotescas, que solicitavam ajuda financeira. Algumas almas compadecidas, certamente os ajudariam naquela “nobre missão”. Os capitães da areia, que não eram os retratados pelo escritor Jorge Amado, foram-se em dupla pela noite, carregando no bolso, além dos pequenos papeis, as duras experiências das ruas. Naquele dia em especial, a artista Ivete Sangalo, que aniversariava, cantaria para os seus conterrâneos. O bolo, infelizmente, os garotos nem sombra iriam ver.
Sentados na beira do rio, um grupo de quatro garotos, com idades que deviam variar de oito a 17 anos, esperavam alguém que viria das barcas, pois impacientes olhavam e apontavam para o outro lado da ponte Presidente Dutra. O mais alto do grupo, um moreno, com uma camisa de propaganda política e os pés descalços, ria compulsivamente e debochava de um dos meninos. De longe, não era possível escutar o que tanto divertia o mais velho, pois o som do trio elétrico, que passava naquele instante, abafava qualquer tentativa de averiguação. Porém, um olhar atento notaria o rápido avançar do que ria, em direção ao menor do conjunto, que menos experiente não teve como evitar o pano com tóxico que lhe obstruiu as vias respiratórias.
Os outros dois do grupo se divertiam, enquanto alucinados, os envolvidos na luta se empurravam tentando demonstrar superioridade. O menor, por fim, foi solto. Meio tonto cambaleou e puxou o ar com mais força que o normal. As mãos na garganta denunciavam uma queimação por si desconhecida. Para demonstrar o quão normal era o efeito, todos os outros garotos experimentaram a droga. A sensação de irrealidade parecia os atrair como um alimento para a alma.
Como nos outros dias, os transeuntes que subiam a rampa da orla evitavam passar por perto dos garotos, que pela aparência de crianças de rua, espantavam os evidentemente neuróticos. Os foliões mais entusiasmados preferiam ignorar e passar direto, cantando as músicas de sucesso da banda que tocava naquele instante. O menor do grupo, ainda meio perdido, lavava o rosto na beira do rio. Os outros três dançavam e pulavam ao ritmo do carnaval.
Quando por fim uma das barcas atracou, três garotos maltrapilhos desceram correndo, emborcando na cabeça chapéus feitos de jornal. Um deles, com no máximo nove anos, apontou uma vareta para frente e gritou se sentindo o capitão de uma frota:
-Avante, homens!
Os outros dois nem ligaram para a ordem, mas seguiram na direção indicada, pois era onde estavam, dançando, aqueles que vieram encontrar. Com toques de mãos como cumprimento, os meninos vindos de Petrolina saudaram os companheiros da Bahia.
Para os mais afeiçoados a sair à noite pelas cidades vizinhas, as figuras no antigo cais de Juazeiro não lhe eram estranhas, apesar da distancia que cada um faz questão de manter. Espalhados pelas lanchonetes e bares, os garotos eram conhecidos por revezarem o pedido de alimento e dinheiro. Alguns mais ousados, não se contentavam com uma resposta negativa e passavam, o que parecia horas para os que escutam, poucos minutos rogando por uma moeda. As pessoas fazem cara feia, desistir da comida ou rápido tiram o dinheiro do bolso para se livrar dos meninos. Em algumas mesas, cidadãos mais angustiados jogam a culpa no governo; esse é o remédio para as consciências que se recusam avaliar o problema mais a fundo. Habituados a todo o tipo de reação da comunidade sertaneja, os meninos aprenderam a conviver com a pior de todas elas: serem ignorados.
Após os cumprimentos, os sete dividiram entre si alguns papeis com impressões grotescas, que solicitavam ajuda financeira. Algumas almas compadecidas, certamente os ajudariam naquela “nobre missão”. Os capitães da areia, que não eram os retratados pelo escritor Jorge Amado, foram-se em dupla pela noite, carregando no bolso, além dos pequenos papeis, as duras experiências das ruas. Naquele dia em especial, a artista Ivete Sangalo, que aniversariava, cantaria para os seus conterrâneos. O bolo, infelizmente, os garotos nem sombra iriam ver.
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