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21 de out. de 2010

Toneladas de algo

Dali Atomicus (1948) por Philippe Halsman


Eu estou cansada, sabe?? Sabe... pelo tédio estou quase abocanhando uma cebola acompanhada por um bom conhaque- às vezes é preciso ter um desmaio, uma boa perda repentina da consciência. Ontem comi corações no espeto, estavam mal passados, sentir o gosto do sangue demorou em me reanimar, mas as galinhas cantando no céu da minha boca quase me levaram a dançar um tango.Ultimamente vomito toneladas de algo, é provável que a culpa seja das malditas mentiras em cápsula indicadas pelo médico. Tenho evitado falar sobre nós (eu), faz parte desse mesmo tratamento, por isso tapo a boca com pedras e farinha para que as palavras não escapem pelas brechas, assim elas retornam à bexiga. No celular há lembretes para que eu recorde que é preciso respirar, conto 1, 2, 3, perco-me no 4 e quando vejo já me engasguei com a fumaça. “Respirar, pular/ pular, respirar, não esquecer de movimentar esse corpo robótico”. Com essa maldita gripe, sexualmente transmitida, fica ainda mais difícil manter o equilíbrio dessa casca que a todo instante funga. Nessa terra seca, molhada apenas entre as pernas, só me restam os devaneios. Ontem eu sonhei que abandonava tudo e casava com a solidão, ela cantava em meu ouvido: rebolem, micos, rebolem pagando mico. Foi amor ao primeiro sonho, quase arrumei a mala e fui fotografar o Azerbaijão.


Ilana Copque


4 comentários:

Jude Araujo disse...

Né? Tudo tende ao tédio Melhor Amiga!

Ilana Copque disse...

pois é melhor amiga, pelo menos com o tédio eu produzo hauhauhaa

bjuww

www disse...

RISOS!!!!!!!!!!
cara....galinhas cantando no céu da minha boca!

rsss
muito..muito! bom..
abraço

Cléber Jesus disse...

As conexões tão bem feitas me chamaram a atenção. As pequenas descrições, tão curtas mas intensas, cheias de significados, cheias de caprichos, carregadas de possibilidades. Uma viagem boa de se fazer.