Bem, não vou dizer que 2009 foi 100%, mas com certeza foi um ano de descobertas e mudanças. Que 2010 seja ainda melhor. Feliz ano novo, galera.
A intimidade das escovas de dentes. Cria-se intimidades a partir das escovas de dentes. Um par de escovas de dentes. Fio dental quebra o clima. Sim, os ocidentais é que são complicados, no fundo a culpa não é das escovas, mas de toda essa balela sobre contubérnio. As escovas que penteiam os dentes, que enxáguam os dentes. Elas não são intimas, talvez chegadas, vizinhas, próximas... A visita da escova de dentes; ela era rosa. Rosa era a escova que visitou sua semelhante. Rosa...
Hoje eu quero me destemperar de você e engolir os meus próprios pedaços
Hoje não vou planejar, não vou esperar...
Hoje eu acordei só minha e quero me comer de lado, de frente, de cabeça para baixo
Hoje as minhas unhas estão feias e o cabelo desgrenhado, mas o espelho mostra...
Mostra-me em essência; nua e crua
Hoje eu quero a diversão particular, quero cansar da minha própria presença
Quero sentir o líquido frio correndo pelo corpo morno, em um choque sem atrito
O hoje pede água do poço, pede a não rima
Que neste dia me sobre a incongruência
Que este dia seja um não dia
Hoje... hoje é domingo, pede cachimbo.
2006
E tome tento
Fique esperto
Hoje não tem papo
Jogo-lhe um quebrante
Num instante
Você vira sapo
Bobeou na crença
Príncipe volta
Ao seu posto
De lenda...(2x)
Seu nome
Ri na boca do sapo
Sua boca...
Faltava ar, faltava ar. Faltava a coragem e a pose de fria indiferença. Talvez aquele fosse o seu elo mais difícil de romper, nem a morte soava tão complicada. A aliança que lhe acompanhou por tantas aventuras, agora se encontra segura no fundo de sua caixa de lembranças. A marca do aro ainda reclamava sua atenção na mão direita, recordando o que seria impossível de esquecer. Suspiros de lamentação já não podiam resolver o problema, que de uma forma estranha ganhava vida própria. De outra perspectiva o fato não seria considerado uma problemática, mas para aquele relacionamento, era o fim. Era o fim, era a dor, eram os prantos da dúvida e ironia do destino. Logo ela, que só acreditava em números repetidos. Mas talvez os números tivessem lhe alertado; da última vez tivera sorte no jogo. Tinha que prestar mais atenção na matemática irônica de sua vida. Agora lá estava ela, tão perdida e confusa quanto os seus personagens. Mais uma vez o fim do fim, do começo. Mais uma vez a tentativa de afogamento do passado, uma inutilidade de rasgos de fotografias e rompimento com qualquer outro tipo concreto de recordação. Tal ato, no entanto, é válido apenas para os romances baratos. ela preferia guardar todas as suas lembranças, não se desfazendo de nenhuma delas, pois já eram parte de si, como parte dele era a sua própria carne, que ainda lateja pela separação, mas que vibra diante do efeito da liberdade. O cheiro dele no travesseiro aos poucos perdia a nuança eficaz que lhe dava a calma necessária para o sono de toda a noite. Agora falta a tranqüilidade, agora há críticas, pois todos se sentem no direito de interferir e se preocupar com a sua vida, mal sabendo eles que a vida dela nunca foi tão dela. E o que é o amor, afinal, se não discursos? Pois que se apaixonasse a cada novo dia, que ela se apaixonasse a cada dia novo, pelo novo, pelo sol, pela chuva... que ela voasse ao ritmo do vento.
A pele gritava, suplicante pedia o arranhão do afeto. As mãos deslizavam em uma dança erótica que deixava explicito todo o desejo implícito. A boca negava, mas os beijos surgiram sem aviso, e em rastros molhados descreveram o que não podia ser dito
Que leve embora toda essa vontade exacerbada, não concretizada, e que já é à parte de mim..
Horário de pique
O suor que salpicava o velho rosto se misturava com a sujeira encrostada de dias sem um banho digno. Com os pés descalços e os fios de cabelo cinza emaranhados, Augusto se sentou no primeiro banco público a vista. A essa altura do campeonato, os camelôs tentavam atrair a clientela apressada, com músicas de sucesso, apresentadas a todo volume. Aquela bagunça sonora, que um dia animou as manhãs de Augusto, agora não passava de um barulho desconexo e longínquo. Ele era meio surdo, uma lembrança desgostosa de um momento de violência e sufoco nas ruas.
Inquieto, o senhor, que nunca soube a data exata do seu aniversário, começou a sacudir uma lata com as duas moedas que ganhou há poucos instantes. Com aquele dinheiro, já era possível comprar um pão e apaziguar um pouco a tormenta da fome. No entanto, precisava de algo para produzir som, já não tinha forças para pedir. Implorou quase toda a vida, e foi por falta de opção. Não gostava da sensação humilhante.
Enquanto o tempo teimava em não passar, Augusto observava os prédios altos e as construções antigas. O mundo girava feito roda-gigante, e ele permanecia ali, admirando aquela paisagem nem um pouco moderna. Por instantes, esqueceu o quão invisível era para os transeuntes que esbarravam em si, e pareciam querer passar por cima de sua limitada figura. Sentiu-se um estranho naquela rua que era sua casa fria e nada doce. Olhou para o céu, queria afrontar a Deus. Esperou alguns minutos para ver se o soberano se manifestava, mas ele era medroso o suficiente para encarar uma pobre alma, em corpo sob a forma de carcaça. Só saiu do transe quando algumas moedas bateram no fundo de sua lata, fazendo-o esquecer o contato divino. Iria comer, enfim!
Imagem da Internet
Éramos sete, sobreviveram cinco. De vez em quando voltavamos a ser um número par, acabavam os trabalhos, éramos impar novamente. No terceiro semestre, como não menos poderia ser: três, voltamos a ser seis, meu número da sorte. Em meio a discussões de relação, e trabalhos que levavam todo o nosso tempo, menos o apetite, sobrevivemos e sobrevivemos. Nas reuniões descontraídas, o que incluía nossos “agregados”, eu nunca ouvi tanta besteirol, nem tanto sangue jorrar dos cortes feitos pelas línguas afiadas. Na hora de pagar a conta, como perfeitos futuros jornalistas, levavamos todo tempo do mundo para rachar o prejuízo. É a comunicação... é a comunicação.