Que
fique este texto sobre as coisas que não escrevi. Que fique o meu receio, a
minha vontade, tudo aquilo que também sou e não serei em palavras. Que cada
peixe volte a nadar pelo meu não tamborilar de dedos sobre o teclado. Que esta
bandeira pudica e suja de lama possa se rasgar com o tempo, pois alvejante não
combina com intensidade. Que eu escreva para me satisfazer, para que ao menos a
masturbação mental não seja tabu. Sou tédio, sabor, decepção e medo. Apesar da autocensura,
também sou o que escrevo, com todos os erros. Sou peixe. Sou humana. Como
sushi. Guardo aqui parte do que não pode ser pronunciado, pois foi deixado para
trás, quando o telefone voltou ao gancho sem os devidos sinais de pontuação.
Atualmente guardo muito do comum. Guardo-me mais do que a qualquer outro.
Guardo essa doença e essa loucura que, infelizmente, não conseguem desatar os
nós. Guardo meus dias sátiros e reflexões objetivamente divagantes. Guardo para
me mostrar, e não demonstrar o que não sou e não lucro. Que eu sempre possa
guardar um pedaço desse eu de hoje. Que essa antropofagia multipolar fique em
registro e desatino. Que fique algo desse algo efêmero.
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