Pages - Menu

26 de set. de 2010

Indo


Eu te perdi. Perdi-te na passarela de um dia nublado, em meio a uma multidão de transeuntes. Os carros passavam logo abaixo, com luzes que seguiam em direção ao infinito. Como zumbis as pessoas corriam para suas casas, fugidas de suas rotinas estudantis, vagabundas ou trabalhistas. Tentei contar os passos para não entrar em transe, tentei te dar as mãos. Em sua busca apalpei o ar denso daquela noite úmida, cortei pessoas, cortei-me, ultrapassei-me... alcancei o meu limite sem me dar conta. O corpo suava, os olhos suavam. Eu sentia a minha pulsação enquanto notava que a correnteza de gente prosseguia naquele ritmo frenético, como se fossemos veias interligadas. Eu te perdi mas não conseguia parar. Vi tantos rostos que, em minha mente, arruinei o que seria a sua composição. Senti vazio, vertigem e frio. Não te senti. Tremula uma das mãos procurou o apoio da barra metálica da passarela, era melhor ter o apoio de algo concreto. A mão gostou de experimentar a aspereza do metal de tinta descascada. Foi namorando a dor que te avistei mais à frente, caminhando tranqüilo, sem olhar para trás. Pensei em te chamar e acelerar o passo, mas quando os lábios se abriram para gritar o seu nome, ele morreu ainda no céu da boca, sufocado por um beijo também perdido. As pernas cederam a tentação e pararam, elas igualmente sentiram o abalo da ressurreição. O mar de pessoas se tornou calmo até cessar por completo. Mais à frente você seguia, ou eu achava que assim fosse, já não podia ver, os olhos estavam fechados tentando se afogar naquilo que não fosse despedida.


Ilana Copque

3 comentários:

Jaquelyne Costa disse...

Tremendamente lindo e triste!
Amiga, sério, adoro ler seus escritos!
Sou tiete mesmo!

Jaquelyne Costa disse...

Tremendamente lindo e triste!
Amiga, sério, adoro ler seus escritos!
Sou tiete mesmo!

Jaquelyne Costa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.