Eu me apaixonei antes de saber o
seu nome. Na verdade, foi amor, e olhe que eu nem havia chegado ao final da
primeira frase. Era tão eu, que a identificação me deixou com os poros gritando
em loucura. Nunca fui muito aficionada a minha pessoa, vivo em conflito. No entanto, o
nosso encontro, não notado por você, foi algo narcisista. Toda a negação e alguns poucos benefícios de mim mesma em outrem. Todas as besteiras que vomito diariamente em textos quase banais. Todos os pontos rápidos, o ritmo que nem eu identifico, pois
não consigo me acompanhar. Vou psicografando até que ao fim tenho coisas,
escritos e mais coisas. Em você também leio desejos, cotidiano, amores, vulgaridade, doces
e a falta de explicação. Torço para que os nossos pensamentos continuem
completamente inconstantes, e as paranoias sejam exercitadas na academia. Como
brigadeiro enquanto tomo cerveja, deve servir para explicar essa efusão acíclica. Hoje me chamaram de pleonasmo, e deve ser
daqueles bem burros. No mesmo dia fui choro, cinismo e o resto. Porém, também fui esse outro
amor, a possibilidade de poligamia. Sim, estou presa e saindo de mim. Estou te entendendo através das minhas andanças, e dando meia volta em meu próprio embaralhar. Mas amo essa
confusão abstrata. Até o meu namorado te ama, ele só não sabe, mas é algo inerente.
Eu sempre termino as minhas tentativas de explicação com interrupções abruptas.
Toda aquela euforia inicial se perde nas linhas. Eu escrevo e vou gastando
a agilidade, o pensamento. Escrevo e vou desapaixonando. Acalmo. Sou baiana e, quando não estou na Bahia, moro na rua do Dendê. No mais, acabou a cerveja e
não há garçom para buscar a próxima, mas deixo aqui algo dessa relação que
começa e termina em uma única pessoa. Até o seu próximo texto. Até a próxima identificação platônica.
21 de set. de 2012
10 de set. de 2012
Do voo ao nado
Que
fique este texto sobre as coisas que não escrevi. Que fique o meu receio, a
minha vontade, tudo aquilo que também sou e não serei em palavras. Que cada
peixe volte a nadar pelo meu não tamborilar de dedos sobre o teclado. Que esta
bandeira pudica e suja de lama possa se rasgar com o tempo, pois alvejante não
combina com intensidade. Que eu escreva para me satisfazer, para que ao menos a
masturbação mental não seja tabu. Sou tédio, sabor, decepção e medo. Apesar da autocensura,
também sou o que escrevo, com todos os erros. Sou peixe. Sou humana. Como
sushi. Guardo aqui parte do que não pode ser pronunciado, pois foi deixado para
trás, quando o telefone voltou ao gancho sem os devidos sinais de pontuação.
Atualmente guardo muito do comum. Guardo-me mais do que a qualquer outro.
Guardo essa doença e essa loucura que, infelizmente, não conseguem desatar os
nós. Guardo meus dias sátiros e reflexões objetivamente divagantes. Guardo para
me mostrar, e não demonstrar o que não sou e não lucro. Que eu sempre possa
guardar um pedaço desse eu de hoje. Que essa antropofagia multipolar fique em
registro e desatino. Que fique algo desse algo efêmero.
7 de set. de 2012
6+6=6
Fim de festa, ainda de salto, fim
de carreira. Pedi amnésia, só tinha vodca, faltou o álcool. A data exigia
comemoração característica, mas permaneci frustrada, quase contida, sem ao
menos ficar bêbada... azar garantido. Abstinência em 6 tempos. Vai ver que é o
fato de ser quase o dia 7, já é
madrugada, afinal. Hoje o 6 se complementou em seu similar invertido. Encaixe.
12 em metade. Minha senha é tão sugestiva quanto a data. Deve significar algo, toda essa obscena coincidência
numérica. Acredito em números, são escancaradamente manipuláveis. Gosto
da ideia, da referência, do implícito. Gosto de mim nesse vestidinho não meu,
que ao fim quer dizer nada. Não há experimento. A essa hora os fragmentos são desconexos. Penso
em um banho e em como assassinar o meu
vizinho surdo. Penso em sangue. O 7 já está raiando, e ainda sou obrigada a
ouvir os gemidos da TV, que atravessam essas paredes de papel, conprovando o meu
silêncio passivo. Moro no bloco C, apartamento 03, conexão em 6. Ainda está escuro. A moça do tempo não explicou, tão pouco
previu essa minha agonia. Os psicólogos ainda pensam a melhor forma de análise. A relevância foi
finalizada com um copo de leite, para acalmar o estômago e a ansiedade. Nem adianta
chamar os universitários, há greve. O jeito é significar em números a minha falta de significados. 6+6+6. Perseguição. Paranoia. Sono.
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