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20 de jun. de 2011

Pernas

Ainda sonolento, o sol berrava a sua chegada, expandindo, através da escuridão, os raios luminosos que prenunciavam um novo dia. Agitado pela tempestade da madrugada, com ondas bruscas, o mar molhava a face do astro rei que, em sua passagem, rabiscava de laranja aquela extensão imensamente azul .

Acostumada a acordar cedo, Socorro, a Fialho do Rodrigues, observava atenta o belo espetáculo da natureza. Para ela, Deus, de bom humor, sentado em sua poltrona celestial, pintava mais um quadro diário.
Com as curtas pernas para fora da janela de sua casa, aquela, apelidada de Corrinha, brincava com a água salgada que lhe fazia cócegas nos pés. O oceano se estendia até a porta da senhora, mas não entrava sem permissão. Do lado de dentro, as filhas de Socorro dormiam, enquanto a mãe se deliciava com o mar que tão raramente vinha lhe visitar. O cheiro mariscado, o som das ondas, tudo contribuía para que ela se sentisse calma e relaxada, algo diferente da sua rotina enfadonha e completamente rotina.

Diante desse conjunto quase bucólico e meio surrealista, a morena, quase muito baixa, avistou não muito longe de onde estava, um animal meio peixe, quase cavalo. As barbatanas do estranho ser eram douradas e se moviam com leveza pelas águas cintilantes. Os olhos que encaravam Corrinha eram redondos e não piscavam, a face do quase peixe era puxada para frente, em uma composição que mais lembrava o focinho de um equino. Atraído pelos pés que dançavam do lado de fora da casa, o animal se aproximou.

Socorro foi mais rápida do que sua rapidez corriqueira. Enquanto o ser ia ao seu encontro, aparentando estar muito animado para perceber que todo o seu volume em nada era simpático, a senhora já se encontrava dentro da residência, não muito bem acomodada em cima do sofá, mas se achando segura o suficiente para soltar aliviar o folego. Sua calma não durou nem um segundo, já que o animal conseguiu saltar pela janela, evidenciando longas patas com cascos que sapateavam pela casa, produzindo um som de galope.

Não demorou muito para que o meio-peixe focalizasse a tal da Rodrigues. Em câmera lenta, ela viu quando o bicho a visualizou e correu ao seu encontro, balançando uma longa calda de pelos macios, que no pequeno percurso conseguiu ensopar o seu tapete persa. Com a expressão congelada, demonstrando pavor pela incongruência daquele instante, ela encarou a face do bizarro ser. Antes que ele a alcançasse, Socorro viu tudo se tornar branco, uma neblina suave. De repente, ela se sentiu rodopiando, sugada,  e de longe identificou o enervante despertador do seu celular. Com a respiração pesada, como quem havia acabado de correr uma maratona, ela se levantou rápido, ao mesmo tempo em que abria os olhos. Piscou alguns instantes, meio perdida e se recuperando do susto.

-Realidade!- Disse em um quase sussurro, diante de sua janela, distante do mar. Sim, aquele era um sonho bizarro e não existia um tapete persa. Estava aliviada!

Obs: Esse na verdade foi um sonho que minha mãe teve.. achei interessante e o registrei, pra ela nunca mais esquecer que além dos peixes nadarem e voarem, eles também podem cavalgar.

2 comentários:

Jude Araujo disse...

Primeiramente. Você modificou o Blog? Em sugundo lugar, essa resenha com os peixes é de família, né? auahua Adorei o texto, ainda mais a Observação! =)))))))

Ilana Copque disse...

Modifiquei sim, como ele estava antes não me agradava e eu sempre dizia que ia mudar, mas quase não vinha mais no blog. Bem, acho que a mudança de cara me motivou a escrever essa crônica com mais de um ano huahauhuaa.