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31 de jan. de 2011

Grupo de teatro 100 mentes


Com a cabeça pequena e a expressão a flor da pele, éramos um grupo de loucos, seguindo um louco mor. Com seu apoio metálico, o general rodopiava pela ampla sala e borbulhava raiva sob a forma de sorrisal. Eu adorava as luzes, o vermelho em sintonia com o azul, que se apagava para dar lugar a um novo filete, um novo foco. Meu corpo dançava em um movimento parado. A mente vagava em órbitas desconhecidas. Verde, amarelo...1,2, 3. Diante do microfone eu tentava ser uma cantora pior que a do chuveiro, mas quem se importava? Era saboroso beber da mesma água dos que tinham talento para ali estar. Caras e bocas, bocas e caras. Línguas para fora e sons disformes. Depois das fantasias, o difícil era lembrar o nome dos inúmeros personagens que por ali passaram. As roupas eram trocadas de acordo com as criações imediatas, outras permaneciam dando vida a uma figura mais consistente, que emocionava com suas gargalhadas ou lágrimas de cebola. As cortinas invisíveis se abriam e davam lugar a um mundo mágico, onde qualquer um podia ser o que bem entendesse. A velha boneca de pano se transformava na Barbie, que cansada de ser perfeita se tornou uma mariposa, confundido-se com a noite e correndo atrás do brilho que não era eterno. Em poucos segundos um homem ganhava cabelo suficiente para ser chamado de Rapunzel. A menina tristonha se apaixonava e vivia um final nada parecido com o da Cinderela. Fora do comum, fora dos padrões, fora de casa e dentro da rua. A mistura era o ingrediente principal daquele caldo baiano com altos índices de pimenta. No entanto, todas as diferenças se calavam e respondiam quando o diretor Jorge, de seu dragão prateado, empunhando uma Excalibur de madeira, gritava: “100 mentes”!. Este era o chamado dos loucos, que uivavam e pulavam seguindo o mestre. Éramos 100, 100 juízo algum, querendo mais que comida, querendo a diversão, a arte... querendo mais da vida.

Ilana Copque

15 de jan. de 2011

Rabiscos


Eu escrevo pela metade, corto, recorto, picoto... O tempo passa, colo minutos e desenho fogueiras, o que não presta vai ao lixo ou queima. Pinto a aurora com aquelas lágrimas, deixo marcas de batom como quem lembra o que necessita. Edifico em tela plana os meus restos que não são mortais. Você fala, eu remonto as verdades. Acaricio e moldo o fragmento, transformando-o em quase eterno. Salpico sorrisos e escrevo não rimas. Contorno mãos gravando a mudança do destino. Destroço consciencias e dou livre arbítrio a dualidade humana. Faço isso para relembrar-nos, eu e você, traços e rabiscos no papel.

Ilana Copque

A depender de mim


A depender de mim
Os psicanalistas estão fritos
Eu mesmo é que resolvo os meus conflitos
Com aspirina amor ou com cachaça
Os gritos todos virarão fumaça
A dor é coisa que dói e que passa
Curar feridas só o tempo há de
Toda regra para o bem da humanidade
É certo necessita de uma exceção

A depender de mim
Os publicitários viram bolhas
Eu sei como fazer minhas escolhas
E assumir os erros que lá vem
Se a alma finca pé os medos somem
Menino nunca deixe que te domem
Mau pai dizia o verdadeiro homem
Sabe o que quer ainda que não queira
Besteira é não seguir o coração

A depender de mim
Os padres e pastores serão tristes
Eu penso mesmo que deus não existe
E ainda assim quem sabe eu creia em deus
Se deus é o outro nome da verdade
Deste momento até a eternidade
Eu levo entre mentiras e trapaças
Besta felicidade frágil farsa
.do que preciso riso preces e paixão

Zeca Baleiro