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28 de out. de 2009

Mar de dentro pra fora

© Ilana Copque

Que leve embora toda essa vontade exacerbada, não concretizada, e que já é à parte de mim..

25 de out. de 2009

Não leve a mal




Ando meio desligado..
Eu nem sinto meus pés no chão
Olho e não vejo nada
Eu só penso se você me quer

Eu não vejo a hora de lhe dizer
Aquilo tudo que eu decorei
E depois do beijo que eu já sonhei
Você vai sentir
Mas por favor, não me leve a mal
Eu só quero que você me queira
Não leve a mal (2 x)




Bem... apesar dos pesares, gostei da idéia do vídeo.

22 de out. de 2009

Augusto

© Imagem da Internet

Horário de pique em Salvador. Fazia apenas alguns minutos, que a agitação no centro da cidade, com um pontapé certeiro, havia atingido o Augusto. Quando abriu os olhos e se recuperou do sobressalto, já não era possível identificar aquele que tinha lhe atingido. Com as mãos ainda úmidas, devido à chuva da noite anterior, esfregou os olhos a fim de se acostumar com a claridade excessiva, daquele dia estranhamente ensolarado. Desde ontem não comia nada, e o som desafinado produzido pelo seu estômago, que reclamava, embalou uma noite iluminada por trovões. De forma vagarosa, Augusto se levantou. As pernas, com sinais explícitos de osteoporose rangeram. O corpo velho já não funciona como antigamente, quando ainda tinha fôlego para correr atrás de alguns trocados. Mal havia terminado de se erguer, e uma alma piedosa lhe jogou umas moedas que rodopiaram pelo chão, brilhando feito ouro vivo. Abaixo-se para pegá-las. 20 centavos. Tão era piedosa a alma, que arderia no inferno por fazê-lo se curvar por tão pouco. Ao levantar-se novamente, todos os seus ossos reclamaram o esforço excessivo.


O suor que salpicava o velho rosto se misturava com a sujeira encrostada de dias sem um banho digno. Com os pés descalços e os fios de cabelo cinza emaranhados, Augusto se sentou no primeiro banco público a vista. A essa altura do campeonato, os camelôs tentavam atrair a clientela apressada, com músicas de sucesso, apresentadas a todo volume. Aquela bagunça sonora, que um dia animou as manhãs de Augusto, agora não passava de um barulho desconexo e longínquo. Ele era meio surdo, uma lembrança desgostosa de um momento de violência e sufoco nas ruas.


Inquieto, o senhor, que nunca soube a data exata do seu aniversário, começou a sacudir uma lata com as duas moedas que ganhou há poucos instantes. Com aquele dinheiro, já era possível comprar um pão e apaziguar um pouco a tormenta da fome. No entanto, precisava de algo para produzir som, já não tinha forças para pedir. Implorou quase toda a vida, e foi por falta de opção. Não gostava da sensação humilhante.


Enquanto o tempo teimava em não passar, Augusto observava os prédios altos e as construções antigas. O mundo girava feito roda-gigante, e ele permanecia ali, admirando aquela paisagem nem um pouco moderna. Por instantes, esqueceu o quão invisível era para os transeuntes que esbarravam em si, e pareciam querer passar por cima de sua limitada figura. Sentiu-se um estranho naquela rua que era sua casa fria e nada doce. Olhou para o céu, queria afrontar a Deus. Esperou alguns minutos para ver se o soberano se manifestava, mas ele era medroso o suficiente para encarar uma pobre alma, em corpo sob a forma de carcaça. Só saiu do transe quando algumas moedas bateram no fundo de sua lata, fazendo-o esquecer o contato divino. Iria comer, enfim!


21 de out. de 2009

Caderno de instantes

© Ilana Copque

As folhas amassadas do meu caderno de instantes guardam palavras rabiscadas com o sangue pulsante que corre em meu corpo. As idéias ganham vida sobre a luz difusa do meu quarto bagunçado e repleto de memórias. A valsa escrita prossegue enquanto o tempo e as crises não me tiram o compasso. O conteúdo do bloco é visível apenas a mim. Tal demonstração de confiança é compensada com os meus mais puros devaneios. Guardo trechos de minhas confusões e falas de sentido maior, só pelo prazer de tê-los ao alcance de minhas mãos, caso a mente, saturada de outras lembranças, afundar algum fragmento precioso.



Obs: Pessoal, estou tendo alguns pequenos problemas com o blog, por isso não estranhem o sumiço de um post ou outro. Não é proposital. Abrs

19 de out. de 2009

15 de out. de 2009

89 primaveras


© Ilana Copque

© Ilana Copque

Hoje é aniversário dessa senhora linda, que é a minha avó Teresa. Não é todo mundo que completa longínquos 89 anos, por isso fica ai a minha homenagem a essa batalhadora piauiense, de um metro e meio de altura.

8 de out. de 2009

Tocos de lápis brancos

Ela desbrava o mundo com aqueles olhos translúcidos, que aplicavam cor a tudo viam. Saltitava de um lado a outro, pois um lado nunca lhe era suficiente. Precisava sempre inventar novos lados e novas brincadeiras. Não sabia explicar o mundo, mas o mundo constantemente pedia explicações. Um dia, entediou-se com os porquês, e com tocos de lápis brancos, pintou o mundo, e não o que o mundo via.



Imagem da Internet




2 de out. de 2009

Nos áureos tempos do Cine- teatro São Francisco


1968. Era noite na movimentada Rua da Apolo, na cidade de Juazeiro. Rosy Luciane de Souza Costa, em seu vestido de caça branco, olhava admirada as mudanças feitas no então reformado Cine- teatro São Francisco. O espaço exalava elegância com seu carpete rubro, fachada espelhada e funcionários muito bem apresentáveis. Os habitantes da cidade, em seus melhores trajes, lotavam os 900 lugares disponíveis, e aguardavam ansiosos o instante em que as cortinas de veludo vermelho fossem abertas. Todos queriam apreciar o filme Doutor Jivago, um clássico indicado ao Oscar.

Não era a primeira vez que a população local se encatava com o ambiente. O Cine- teatro São Francisco foi inaugurado em 1937, na cidade de Juazeiro. Habitual espaço de encontro, o cinema foi por um longo período um dos principais centros de sociabilidade no Vale do São Francisco. Nele, jovens marcavam encontros e famílias se divertiam com os filmes, peças e espetáculos musicais. Pessoa simples, que nunca ouvira falar em uma língua estrangeira, se interessava por estudá-la, citando inclusive algumas frases de efeito, como “Thank you”. A moda também foi influenciada e, as roupas dos atores e atrizes de Hollywood bastante reproduzidas pelos jovens.


Semanalmente, antes dos filmes, eram exibidos cinejornais com o resumo dos acontecimentos ocorridos no Brasil e no mundo, dentre eles os jogos de futebol. “As pessoas também iam ao cinema para se informar. Todos queriam ver os jogos do Flamengo. O cinema era um bem cultural e orientava as pessoas”, afirma Rivadávio Espínola Ramos, ex-gestor do estabelecimento.

Em 1968 o cinema passou por uma reforma que viabilizou grande conforto aos seus frequentadores. A projeção dos filmes passou a ser feita em uma tela panorâmica, onde em qualquer lugar o expectador podia ter uma boa percepção do material apresentado. Os assentos eram enumerados e, por um preço um pouco mais caro, o cliente podia assistir aos filmes na parte superior do edifício, onde as cadeiras eram mais confortáveis. Ao lado da sala de exibição havia uma área aberta com música funcional ambiente, destinada a diversão e àqueles que aguardavam as próximas sessões. Uma novidade que facilitou a saída do público foi a construção de portas laterais que davam diretamente na Rua da Apolo.


A maioria dos cinemas da época era também palco de espetáculos musicais, humorísticos e teatrais. Os principais artistas do Brasil rodavam o país se apresentando nestes espaços. Grandes nomes passaram pelo palco do Cine- teatro São Francisco. O maior fluxo de apresentações ocorreu entre 1950 e 1970. Alicio Figueiredo Gil Braz, empresário e apresentador, era um dos responsáveis por trazer os profissionais para abrilhantar as noites da cidade. Dentre estes artistas, pode-se citar: Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, Ângela Maria (foto), Vicente Celestino, Orlando Dias, Waldick Soriano, Bartô Galeno, Luís Gonzaga, Sanfoneiro Abadias, Vanderlei Cardoso, Jerry Adriane, Reginaldo Rossi, Carlos Alberto, Cauby Peixoto, Trio Nordestino e algumas vedetes do Teatro Rebolado, a exemplo de Enesita Barroso.

Rosy Costa recorda a agitação local durante show de Roberto Carlos, que no auge da Jovem Guarda foi trazido à cidade. Naquele dia, o cantor foi escoltado em um calhambeque. A fila para prestigiar o evento dava voltas no quarteirão e foi necessária a presença da polícia para que a ordem fosse mantida. Os jovens, eufóricos, quase quebraram as cadeiras diante do embalo do espetáculo.

Com o surgimento e ascensão da televisão, seguida pelo vídeo cassete, o cinema aos poucos foi perdendo seu fiel público. O Cine São Francisco, apesar das tentativas de modernização, não resistiu à mudança dos hábitos sociais. Na década de 1980, Joca de Souza Oliveira arrendou o espaço à empresa baiana, Oriente Filmes. O grupo, no entanto, não conseguiu manter um fluxo frequente de pessoas e logo se transferiu para a Galeria Água Center, onde também não obteve sucesso.

As exibições cinematográficas aos poucos foram se moldando a uma nova lógica de mercado, que incluía locais de grande movimentação, onde as pessoas além de assistir aos filmes, pudessem ter outras opções de lazer. Por este motivo, na atualidade, grande parte dos cinemas está localizada estrategicamente em shoppings. A mesma Oriente Filmes que não fez sucesso em Juazeiro, mantém salas no River Shopping, em Petrolina.

No edifício do antigo cinema, funciona hoje as Lojas Maia. Recentemente, duas máquinas de projeção foram doadas, uma à Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), onde será recuperada e utilizada no laboratório de linguagens, do curso de Ciências Sociais, e outra ao Museu Regional do São Francisco, no qual ficará em exposição para o público. O equipamento, de marca americana Westrex, data mais de 50 anos. Como os filmes eram divididos em rolos, chegando muitas vezes a 15 deles, eram necessários dois equipamentos, manuseados por um operador atento, responsável por trocar um e outro, a fim de não haver descontinuidade durante as exibições cinematográficas.

Para Rivadávio, a importância da doação do maquinário está no fato deste “contar” a história do cinema na região. “É bom guardar uma coisa que marcou uma época tão forte. O cinema dos áureos tempos não é mais o de hoje. É importante guardar essas informações. Tomamos atitudes também baseado no que passou, muitas vezes copiando e melhorando. Não se pode ter educação sem história”, afirma o ex-gestor.

Por Ilana Copque
Fotos: Ilana Copque e Arquivo Maria Franca Pires

1 de out. de 2009

Piercing



Piercing
(zeca baleiro)

tire o seu piercing do caminho
que eu quero passar com a minha dor


pra elevar minhas idéias não preciso de incenso
eu existo porque penso tenso por isso insisto
são sete as chagas de cristo
são muitos os meus pecados
satanás condecorado na tv tem um programa
nunca mais a velha chama
nunca mais o céu do lado
disneylândia eldorado
vamos nós dançar na lama
bye bye adeus gene kelly
como santo me revele como sinto como passo
carne viva atrás da pele aqui vive-se à mingua
não tenho papas na língua
não trago padres na alma
minha pátria é minha íngua
me conheço como a palma da platéia calorosa
eu vi o calo na rosa eu vi a ferida aberta
eu tenho a palavra certa pra doutor não reclamar
mas a minha mente boquiaberta
precisa mesmo deserta
aprender aprender a soletrar

Refrão

não me diga que me ama
não me queira não me afague
sentimento pegue e pague emoção compre em tablete
mastigue como chiclete jogue fora na sarjeta
compre um lote do futuro cheque para trinta dias
nosso plano de seguro cobre a sua carência
eu perdi o paraíso mas ganhei inteligência
demência felicidade propriedade privada
não se prive não se prove
dont't tell me peace and love
tome logo um engov pra curar sua ressaca
da modernidade essa armadilha
matilha de cães raivosos e assustados
o presente não devolve o troco do passado
sofrimento não é amargura
tristeza não é pecado
- lugar de ser feliz não é supermercado

Refrão

o inferno é escuro não tem água encanada
não tem porta não tem muro
não tem porteiro na entrada
e o céu será divino confortável condomínio
com anjos cantando hosanas nas alturas
onde tudo é nobre e tudo tem nome
onde os cães só latem
pra enxotar a fome
todo mundo quer quer
quer subir na vida
se subir ladeira espere a descida
se na hora "h"o elevador parar
no vigésimo quinto andar der aquele enguiço
- sempre vai haver uma escada de serviço

Refrão

todo mundo sabe tudo todo mundo fala
mas a língua do mudo ninguém quer estudá-la
quem não quer suar camisa não carrega mala
revólver que ninguém usa não dispara bala
casa grande faz fuxico
quem leva fama é a senzala
pra chegar na minha cama
tem que passar pela sala
quem não sabe dá bandeira
quem sabe que sabia cala
liga aí porta-bandeira não é mestre-sala
e não se fala mais nisso mas nisso não se fala

Refrão