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16 de ago. de 2010

O último girassol


Imagem da internet

Hoje eu encaro o último girassol, aquele que sobrou de um campo devastado. Que suas pétalas absorvam minhas lágrimas, diminuindo o peso do mundo, o peso do naufrágio. A infinidade do caminho a percorrer me deixa tonta, desorientada, mas eu tento começar de novo, reinventando-me a partir dos pedaços. Olho o espelho e encontro as marcas das antigas feridas, todas nesse dia latejam inflamadas, atiçadas pela recente e enorme chaga no peito. O rosto que encaro não me recorda em nada a garota que um dia acreditou ser mais feliz que os felizes, a sortuda com o bilhete premiado. Ela caiu na besteira de acreditar nos momentos, ela teve o seu momento e esperou por mais uma dúzia deles para alcançar o céu.. Vendo o meu irreconhecível reflexo, ponho mais uma pedra como ponto na minha interrompida história. Zero, eu escrevo aqui. Estaca zero!

Com um sorriso que surge rasgando a alma, encaro pela última vez a viçosa flor amarela. Que ela enfeite o tumulo coletivo com suas iguais, que morreram de esperança. Ao largar o girassol, em câmera lenta ele se une a terra onde as fantasias já não brotam, porém, talvez o vento ainda leve a sua semente a outro planeta.

2 comentários:

Unknown disse...

Que este último girassol, antes de encontrar o seu fatídico destino, possa soltar algumas sementes que usem as cinzas desse cemitério para brotar mais uma vez, mesmo que lentamente, mesmo que desajeitadamente, mesmo que (in)felizmente.
Não se trata daquela velha rotina da fênix que sempre volta a ser a mesma depois do pó. Na verdade, estou falando de novas flores com outras pétalas que absorvam além de lágrimas, os demais dissabores e possam crescer com isso.

A.S. disse...

Ilana...

Ainda que seja da última pétala do último girassol, renascerão as sementes que hão-de trazer de novo o brilho aos teus olhos e a doçura ao teu sorriso!

BjO´ss
AL