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9 de jul. de 2011

Em caixa alta e negrito


-Dês....Tê!- falou apontando

-Dês... dro...- Respirou fundo, a fim de aliviar as palavras. Soprou o nada, em um muxoxo, desistiu de algo e agitou as mãos. Pausadamente começou qualquer outra fala que, para os de fora, parecia qualquer outra incongruência:

-Tra...tre...tri...tro...tru- puxou o ar, pensou em lhufas, recordou a fonodióloga abrindo e fechando sua boca de peixe. Aquela era a hora de mal dizer o exercício que mais lhe lembrava uma metralhadora. Teve vontade de fazer um gesto obsceno, mas os dedos rangiam e pediam descanso.

Olhou para os estúpidos que tentavam predizer o seu não dizer, como em um jogo de mímica. Arranhou a pele em um sinal de asco pela sua velhice. Deu pausa... pausa... pausa... pausa... Empenhando força, em uma expressão que parecia que lhe rasgariam as rugas, quase gritou:

-Dês...li a DROGA d... Tê-Vê

O som saiu esganiçado e rouco, no entanto, foi o suficiente para os mais animados com o jogo mandarem a doce velhinha sentar no sofá.

2 comentários:

Jude Araujo disse...

Poxa, gostei do texto =)

Ilana Copque disse...

Fatos quase reais!