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Ela se trancou no seu pequeno mundo de dois cômodos. Presa em seu próprio desafio, permaneceu imersa na solidão. As risadas lá fora pareciam falsas, forçadas, todos queriam animá-la, mesmo ela expondo sua melhor carcaça de alegria; não gostava de demonstrar fraqueza. O celular, naquele dia, não registrou chamadas dele, e a todo custo ela evitou se animar com qualquer pulsar do objeto. Contida, sempre contida, o que lhe sobrava e o que sempre a acompanharia era o seu ensurdecedor orgulho. Isso é o que ela ganhava por sucumbir, mais uma vez, as demências do amor, isso é o que ela pagava por, ao fim, preferir a si. Sozinha se abraçava melhor, sozinha ela sentia toda a falta que era capaz de suportar. Que o dia terminasse em mais uma tentativa interrompida de sono, mas que o dia logo terminasse.
Por Ilana Copque e Raoni Santos
Em Petrolina e Juazeiro, cada vez mais a música ganha graça e nuança feminina. Na região, é perceptível o aumento no número de mulheres que se envolvem com arte musical. Apesar de ainda serem poucos os espaços que valorizam de fato o talento dessas artistas, elas embalam e animam as noites no Vale do São Francisco, buscando nos bares uma forma de renda e reconhecimento.
Fabiana Santiago é uma cantora que começou o seu envolvimento com a música ainda criança. “Meu avô tocava violão, e minha e mãe e tia cantavam em serenatas”, diz. Hoje, Santiago faz carreira solo e trabalha como backing vocal na banda do sanfoneiro Targino Gondim. A grande mudança em sua vida ocorreu em 2007, quando participou do espetáculo musical, Entre Elas. Até então cantava
Sertaneja de Mirandiba (PE), Nadja Pires é uma artista com mais de 20 anos de bagagem, sendo uma das primeiras mulheres no Vale a tocar
Experiente, Nadja, que toca em barzinhos em Petrolina e Juazeiro há quase 15 anos, lamenta que a classe artística, nas duas cidades, seja desunida. Quando tem shows sobrando, e não pode comparecer, recomenda alguns amigos disponíveis para ocuparem o seu lugar. “Os meus indicados são tão responsáveis quanto eu”, diz Pires.
A cantora e estudante de jornalismo, Joyce Guirra, natural de Caraíba Metais (BA), tem uma opinião parecida com a de Nadja, no que se refere à falta de união dos artistas. Para ela, quem trabalha no ramo, na região, faz por amor, pois nem de longe ganha bem. “Por aqui não há uma valorização artística, e isso decorre também da falta de união da classe”, complementa. Joyce, desde pequena teve certo envolvimento com a música, devido à influência do pai, Genivaldo Nunes, que toca violão. Quando se mudou para Juazeiro, passou a fazer apresentações em barzinhos, apesar do seu reconhecimento vir a partir do teatro. Hoje, aos 22 anos, canta por prazer durante os finais de semana. Não se considera uma profissional, apesar de ter uma renda a partir da atividade. Com um repertório recheado de muita MPB, sua preferência é por cantar em festas particulares.
Os donos de bares, segundo Nadja, já não se importam se quem está cantando é uma mulher ou homem, o que lhes chama a atenção é o talento, o desempenho da pessoa. Ainda são poucos os espaços em Petrolina e Juazeiro que oferecem um “som” de qualidade, pagando um preço justo pelo trabalho do artista. No entanto, para a felicidade de muitos deles, algumas instituições, como o SESC e o CEFET, oferecem cursos e oficinas que trabalham a especialização e aperfeiçoamento de técnicas; um avanço para quem é apaixonado ou apaixonada pela arte sonora.