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29 de ago. de 2012

Olhos vermelhos e pantufas




 Olheiras e bocejos são rotineiros, cochilo quando mal acordei. O confortável pijama é o meu companheiro nessa espera de um milagre. As horas me burlam. Faço as contas, acordo aos pingos, sonho com números e ouço uma sinfonia de despertadores. A cama, o sofá, a cadeira... o carro vai no balanço da cantiga de ninar, convidando-me a fechar os olhos. Chamo nomes em minha incongruência, penso em diálogos que não sei se existiram. O dia passa encoberto por uma leve névoa, e eu cruzo esse triste caminho em minhas pantufas azuis e felpudas. O estado zombie dura enquanto a luz do sol se faz presente. Do meu quarto ouço vozes e tento manter o horário. Há vida dentro da casa e fora dela. Há o movimento enervante , energia fluída e palpável, quando tudo o que quero é desligar o mundo e diminuir o ritmo. A noite me brinda com uma vitalidade que provem das profundezas do inferno. Os olhos vão vermelhos, mas o corpo está desperto. A insônia mantém minha mente acesa, enquanto apelo aos chás, aos florais e à dança da chuva. Mandingas me interessam. Troco a roupa por outro...pijama? As horas passam. Leio versos, leio imagens, leio livros, a bíblia, as receitas de bolo e a bula. As horas passam. Não aguento mais olhar para o computador. Cadê as vozes enervantes? Há vida na televisão e um leve ronco de quem se deleita com o descanso. As horas passam. Há paz, o tédio, o barulho da geladeira e enfim sono, cansaço. Feliz, fecho os olhos. Três horas depois antecipo até mesmo o despertador e me torturo com um banho gelado.  Já não sinto fome e a luz me ofusca, devo mesmo ter me transformado em uma criatura das trevas, só não sei quando isso ocorreu, já que eu estava acordada e nada vi.

2 comentários:

Bruna Matos disse...

Adoro sua forma de escrever.
Sei bem como é essa sensação, a insônia é perversa, mas também nos brinda com os melhores momentos de inspiração.
Viva os pobre amaldiçoados noturnos!

Jude Araujo disse...

Adorei o texto! Ouu insôniaa...